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Excesso de (des)confiança
Chico Alencar
55 senadores decidiram: sai a diversidade inoperante de Dilma II, entra, interinamente, o patriarcado reacionário de Michel Temer. Os dois compuseram uma chapa que disputou o governo da República há pouco mais de ano e meio, recebendo, no 2º turno, quase 54 milhões de votos. O programa eleito não foi cumprido por Dilma. E Temer assume as propostas da candidatura derrotada, do PSDB – seu parceiro de governo, aliás.
Aquele em quem Dilma não podia confiar, e que reclamava, de uns tempos para cá, de não ter a confiança dela, disse que a palavra de salvação para o Brasil seria… confiança. Mas a equipe masculinista do novo governo não a inspira.
A politicagem explica: não tendo a legitimidade do voto popular próprio, o vice tornado presidente interino precisa de sólido apoio congressual. Daí ter colocado nada menos que 11 partidos e 19 parlamentares ou ex-parlamentares em seus ministérios.
Do propalado “time de notáveis”(?) involuiu para um primeiro escalão de notórios politicões, dos quais nada menos que sete que já tiveram condenação por improbidade e crimes eleitorais ou estão sob investigação – inclusive na Lava Jato, pano de fundo do impeachment de Dilma.
São também sete os herdeiros de oligarquias políticas. Onde a renovação? Daí o rebaixamento da Cultura, dos Direitos Humanos, da atenção à diversidade.
A prioridade é ao enfrentamento da crise econômica. Mas uma das armas para enfrentá-la é a franqueza. Como a de dizer que a economia tem uma dinâmica que não está subordinada tanto a governos quando ao modelo liberal-periférico, dependente das commodities e do grande capital financeiro. Este não foi questionado por Dilma e não o será por Michel. Os mercados mandam, os governos tentam administrar.
O privatismo máximo de Moreira Franco aprofundará esta colonização da política pela economia.
Traça-se o cenário do “fim do mundo”, e o desemprego é, de fato, uma tragédia. Mas vale lembrar que há projeções de superávit comercial de R$ 55 bilhões para este ano, que nossa dívida pública de 65.5% do PIB é quatro vezes menor que a do Japão, por exemplo, que a inflação, em trajetória de queda, retornará a um dígito, menor que a de 2015, e que temos reservas internacionais de U$ 370 bilhões. Nada disso indica quebradeira generalizada.
Houve panelaço, buzinaço e apitaço em muitas cidades do país, quando o presidente interino deu sua entrevista exclusiva para o Fantástico. O cansaço da população com as formas predominantes de fazer política no Brasil vai além dos defenestrados Dilma e PT. A maioria não aceita mais as práticas inspiradas na “ordem” para os de baixo e “progresso” apenas para os de cima.
Chico Alencar é professor de história e deputado federal pelo PSOL-RJ.